quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Que Te Faz Feliz ?



- Você é feliz ? -- Foi a pergunta mais feita hoje por mim. 

      O que é ser feliz ? Eu tive tantas respostas comuns como umas que não pensei em ouvir. O que define a sua felicidade ? É a sua família reunida, se dando bem uns com os outros, jantando sempre à mesa, conversando e jogando conversa fora. Ou aquele seus amigos que fazem seu dia mais valioso do que qualquer outro? Ou, talvez, aquele celular que você queria tanto, ou aquele filme de uma saga que você esperou tanto pra ver o final. Poderia também ser o seu cachorro, que suja sua casa toda mas que você também se diverte tanto ao lado dele. Ou todas essas e muitas outras certo ?

- Você é feliz ?
- Sou sim. 
- O que te faz feliz ?
- Não sei. eu só sinto que sou

      Outro dia me vi conversando com um amigo. Enquanto a família "A" eram todos unidos, a família "B" não se davam bem. Pra onde vão todos esses sentimentos. Quem nunca quis ter uma família onde pudéssemos sermos nós mesmos ? Que sempre visse o nosso lado, se conformasse que crescemos e estamos cientes de toda as ações que tomamos ? Muitas pessoas sempre quiseram chegar em casa é ser recebidas pelos abraços dos pais, de deitarem e receber cafuné, de chegar é a jantar está pronta...

      Outro dia vi um carroceiro na rua, puxando sua carroça e catando latinhas e papelões no lixo. Provavelmente para sustentar a própria família. Junto dele estava sua filha, que aparentava ter uns 5 anos. Você olhava pra ela e via um sorriso enorme no rosto. A roupa toda suja. Ela no lixo catando como se estivesse brincando. Mas por dentro, sabe lá o que essa criança já passou. Noites de chuvas, frio, fome.. dormindo em cima de papelões. A probabilidade dela ter passado isso é grande e é muito ruim pois eu mesmo já passei por isso. E, talvez, por causa disso que eu seja frágil a esse tipo de situação. Não aguento vê crianças sendo maltratadas, passando fome, sentindo frio, calor.. sem ter onde dormir.

      Mas apesar de todo esse sofrimento ela nunca deixou de sorrir. Sempre correndo, alegre pelo canto das calçadas. Depois posta no braço de ferro da carroça enquanto seu pai puxa infinitamente aquele peso enorme, porém o sustento da sua filha e família.

      Daí, a gente para e pensa: Por que diabos eu reclamo da minha vida ? Porque reclamo da minha internet ser lenta ou de não ter um celular bom ? Porque reclamo do meu almoço quando não é algo que eu quero e estrago ? Enquanto eu reclamo de ter esse "pouco", pro carroceiro isso seria "o suficiente".

      É dessa situação que descobrimos que realmente somos felizes. O carroceiro e sua filha sempre sorrindo, seguindo dias e noites sem parar, sofridamente.. Mas se formos perguntar se eles são felizes, com certeza eles são. Por mais que seja, para alguns, vergonhoso ir no lixo procurar o seu sustento, para outros, aquilo é vida, é a felicidade de chegar em casa, depois de tanto esforço e ter um pão com manteiga na mesa. De poder ter aquela árvore de Natal desejada, de ter aquele vestido de São João. De deitar na cama com a consciência de que tudo vai melhorar um dia.

      Então somos todos felizes. Não que a felicidade se resuma a essas coisas. Mas mesmo não se resumindo, nós temos um lugar pra dormir, temos uma família por mais que briguem, temos o que comer, e temos as pessoas mais valiosas de nossas vidas ao nosso lado que são nossos Amigos. O que seria da vida sem nossos amigos ? Eles que fazem a gente esquecer nossos problemas como nos dão novos problemas, que nos fazem sorrir com idiotices. Que gritam no meio da rua. Que vivem intensamente. Que nos defende. Como aqueles mais "próximos" que nos amam e por não amarmos da mesma forma, nós acabamos considerando-os nossos amigos-irmãos. 


      - Você é feliz ?
      - Sim, sou feliz
      - O que te faz feliz ?
      - A vida. Viver já é por si uma felicidade.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ele, O Todo e Cada Um.



Ele decidiu viver só para ele.
Não era assim que as coisas funcionavam? Individualidade era um valor forte da cultura em que estava inserido, havia dito um sociólogo num programa de TV. Mas não era preciso ser sociólogo para constatar isso. Afinal, havia os anúncios de publicidade.  Os seriados. As caixas de cereal. Sim, as caixas de cereal: não era nelas que ele lia, toda manhã, dicas como “seja você mesmo”, “faça o que tem vontade” e até mesmo “faça o seu destino”? Então.
Os filósofos gregos se perguntavam qual a melhor maneira de viver a vida, mas parece que os contemporâneos dele tinham encontrado a resposta: ser livres para fazer suas próprias escolhas, consumir para atenuar as angústias, viajar, curtir. Cada um do seu jeito. Cada um na sua. Não era assim?, pensou ele. Então, para que remar contra a maré?
Ele trabalhou, ganhou dinheiro, exigiu ser respeitado quando pintou o cabelo, quando raspou o cabelo, quando mudou de orientação sexual, de religião, de ideia, de estilo de roupa, de estilo musical. Ele se entusiasmou e mudou a cor da pele, mudou de gênero, engordou, emagreceu e envelheceu, sempre deixando muito claro que queria ser respeitado como indivíduo.
Ele também queria ter seus bens respeitados, é claro. O indivíduo e as coisas do indivíduo, não é assim que funciona? Ele, o carro dele, a casa dele, os móveis dele, a casa de praia dele, o relógio dele, o computador dele, o dinheiro dele.  Assim como as idéias dele, as opiniões dele, os sonhos dele, a personalidade dele, o gosto dele.
E que bom, ele tinha conseguido ser respeitado, que evoluída uma sociedade assim, que respeita o eu de cada um, o meu do nosso.
Mas tinha um problema. O trânsito.
Respeitarem o estilo de roupa dele, as opiniões dele e os bens dele era muito bacana. Respeitarem a cor dele, o gênero dele e a orientação sexual dele era mais bacana ainda. Mas e o trânsito?
O trânsito não era dele, era de todos, e como cada um foi entrando na dele e na das caixas de cereal, o trânsito foi virando um inferno. Quem queria passar passava, quem queria fechar fechava, quem queria correr corria.
Mas o trânsito foi só o começo do colapso. Ele foi se cansando de viver só para ele. Foi se sentindo vazio. As coisas que eram só dele foram perdendo o sentido. O sentido vinha da reação com os outros e com o todo, mas os outros e o todo só pensavam em cada um. Então cada um foi se angustiando, e o tempo foi passando, com a agonia de vários eus e a morte do todo.
Viver só para ele não estava funcionando.
Então ele pensou bem e decidiu viver só para o todo.
Não fazia muito mais sentido? O que importava era o coletivo.  O interesse de todos supera as necessidades de cada um, ele viu outro sociólogo falando num programa de TV.
Os filósofos gregos se perguntavam qual era a melhor maneira de viver a vida, mas parece que os tribunais gregos não tinham nenhuma dúvida a esse respeito: a propriedade lá não era muito privada, as ações de cada um eram voltadas para a política e quem desobedecia as regras da cidade não tinha direitos individuais, mas uma boa dose de cicuta.
Ele não sabia o que pensar da cicuta, mas não dava mais para viver só pensando em si mesmo, num mundo em que ninguém vive sozinho. Como só pensar em mim, se faço parte de uma sociedade?, ele começou a pensar. O que importa meu computador? Meu carro? O que importa a minha caixa de cereal da minha cozinha da minha casa, o que importa a minha caixa de cereal com mensagens de auto-ajuda quando o mundo está gritando por ajuda?
Ele juntou as pessoas que pensavam como ele e fez um grande todo de gente que pensava no todo. A ideia se espalhou e todo mundo começou a se focar em todo mundo.
Trabalhos foram distribuídos pensando no coletivo, idéias e preocupações foram distribuídas pensando no coletivo, casas foram distribuídas pensando no coletivo, famílias foram orientadas a educar seus filhos pensando no coletivo e, aliás, os coletivos andavam muito bem, obrigado, assim como os carros e motos naquele trânsito que começou a fluir que era uma maravilha.
Mas aí veio o problema da tintura de cabelo.
O trânsito era uma maravilha, mas os fios de cabelo branco dele eram um inferno e, que diabo, ele estava acostumado a tingir o cabelo desde a época em que vivia só para ele. Ele tentou comprar a tintura de sempre, mas parecia que isso de tingir o cabelo não era uma atitude muito coletiva, porque ele não conseguia encontrar a tinta.
Ele foi ficando chateado com isso e se abriu com seus colegas que pensavam no coletivo.
Os colegas, no início, criticaram esse desejo dele de tingir o cabelo, ora, que bobagem anacrônica de tempos individualistas, que capricho bobo, o que importa não é seu cabelo, mas o todo. Mas aí um colega confessou que sentia falta das roupas que usava, e outro disse que sentia falta de uma marca de chocolate de que gostava.
As saudades foram crescendo: da propriedade privada, passaram às alegrias e tristezas privadas.
Da liberdade. De exercerem a profissão que quisessem, de crescerem na profissão que quisessem. De pensar e de falar o que quisessem, de expressarem opiniões diferentes das opiniões do todo. De criar um filho de acordo com seus próprios valores, desfrutar prazeres pessoais e se empenhar por objetivos particulares.  De desejar não só os desejos do todo, mas os desejos de cada um, com a personalidade, as vontades, a história de cada um. De chorar em um canto, mesmo quando o tudo de todos estava bem.
O todo foi agonizando e os indivíduos foram morrendo, um a um.
Ele suspirou.
Ele queria as coisas dele e as coisas do todo.
Ele queria ser um dentro de si e dentro do coletivo.
Ele queria tingir o cabelo, ajudar os outros, ser ele mesmo e fazer parte de algo maior.
Ele queria do fundo da sua alma, daquela alma solitária e agrupada, que morava dentro e fora dele. Ele queria um mundo individual mais humanizado. Um mundo coletivo mais interiorizado.
Ele olhou para si, olhou o céu e sorriu. Ele queria. Era possível?

domingo, 27 de outubro de 2013

Pontes No Céu - Como É Bom Sonhar!

      


      Sonhar é uma das coisas mais belas que existe. Nos nossos sonhos podemos ser tudo que quisermos. Quem nunca se pegou pensando do nada imaginando ser aquela modelo esbelta, desfilando em passarelas no mundo todo, ou de ser aquela bailarina com passos leves e saltos tão longos que chegam a encantar. Aquele guitarrista fazendo aqueles solos tão inspirados que tocam sua alma, que transmite exatamente o que você sente em apenas sons agudos. Todos sonhamos em ser algo na vida. Não importa o que seja, ele pode ser alcançado. Mas sonhar já é outro nível. Quem nunca ficou deitado na cama criando histórias improváveis de acontecer ? Até eu mesmo já fiquei. Aquele momento em que vamos dormir, e não conseguimos. Viramos pra um lado e pro outro da cama e aquele maldito sono não aparece para nos consumir.

      Vem tantas coisas em nossas mentes, são tantas lembranças boas que temos que não sabemos qual lembrar primeiro. Se pudéssemos seríamos criança a vida toda. Lembramos quando comíamos areia, ou brigávamos com nossos amiguinhos ou irmão por qualquer besteira. De todas as quedas que levamos. Da primeira vez que conseguimos andar de bicicleta e do quão difícil foi conseguir aprender tal coisa. De nossos aniversários, dos amigos que foram e nunca mais vimos, de acordar cedo e assistir Patolino e Pernalonga na TV. De brincar com massinhas de modelar e colar ela nos braços dos bonecos por que tinham sido torados. De morfar e ser o Power Ranger vermelho e brigar com os outros meninos por causa disto. De destruir a casinha de bonecas das gurias com nossos bonecos do Shurato. Quando nos melávamos de comida e quando ficávamos no colo de nossa mãe recebendo carinho.  

      Dai imaginamos tantas coisas, criamos histórias. Aquela pessoa que você ama e não pode ter, mas nos seus sonhos você até já casou com ela. Quem nunca assistiu algum filme ou anime e se imaginou sendo ele, estando lá salvando a terra com super poderes, e no fim fazendo drama morrendo. São história que realmente queremos que acontecesse mas são "quase" impossíveis de ocorrerem. Nós jogamos todos os nossos desejos naquilo, como se um dia fosse realmente acontecer. O pior é que parece ser tão real que acabamos muitas chorando ou nos sentirmos culpados pelo que acontece (mesmo sendo a gente que faz a história). 

      Lembro que eu gostava muito de fazer isso. Na verdade ainda faço isso quase todos os dias. É divertido. Imagine você lá no meio de uma guerra, enfrentando meio mundo de gente. Todos lá sem esperança de vencer, já a beira da morte quando do nada você entrelaça suas mãos e grita "Kyuchiose: Edo Tensei" ou ativa aquela carta armadilha, ou faz cara de mal de pronuncia "Bankai". Eu já fiz muito isso, sério mesmo. Podem rir a vontade e me chamar de doido mas é irado. Tem sempre aqueles mais tarados que imaginam coisas pornográficas, transando lá com 10293 mulheres ao mesmo tempo, porém não deixa de ser uma aventura. Dai você olha pro relógio e são 4:30 da matina e lembra que tem que acordar cedo pra ir pro trabalho ou escola. Que tem que fazer almoço e faxina em casa e milano de coisas. E dorme. E o sonho nos consome, nos leva pra um mundo de magia, um mundo paralelo ao nosso.

      Passamos tantas coisas divertidas ou tristes neles, que parece que se foi uma vida inteira quando na verdade só foram algumas horas. Acordamos sem querer acordar, querendo continuar lá, onde todos os nossos desejos estavam se realizando. Uma verdade que não é de verdade, que é apenas desejo. E é tão forte que até chegamos a "sentir" de verdade o sonho e acordamos chorando, assutado, rindo ou até, pode acreditar, mijando na cama rsrsrsrsr. 

     Voltamos a realidade e temos que segui nosso dia, resolver nossos problema. A gente levanta com a mesma rotina que nem nos satisfaz mais. Nos arrependemos de decisões que não foram tomadas, sentimos falta daquela pessoa querida. O tempo mostra o quanto estamos velhos para fazer certas coisas diante desse mundo. Crescemos, tudo mudou. Nada é como antes. Mas não podemos desanimar por causa disto, a vida é bela demais pra ficar 24 horas se deixando pra baixo. Vamos sempre seguir a vida, seguir o dia com um sorriso no rosto para abalar aqueles que querem a sua falha. Para quando a noite chegar novamente, irmos para onde mais queremos está. E ele sempre vai está lá esperando pra nos entregas nossas fantasias, nossos desejos e nossos sonhos. Naquele mesmo cantinho de sempre, onde é só seu e de mais ninguém (ou de quem você permitir que seja). Pois ali você é Deus, ali é sua história. Você é o protagonista, o autor, o diretor, o câmera  o cara das trilhas sonoras. Ali você decide o que é certo e errado. Sonhar é uma das coisas mais maravilhosas da vida.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Escolhas De Uma Vida



A gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.

Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida". 

Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.

As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...

Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.

Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.

Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.

Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Lembrete da Morte!





“Um dia vamos morrer”, sempre tem alguém disposto a nos lembrar. A deixa varia, o tom também – “Um dia vamos morrer” funciona tanto num tom mais dramático como num mais formal, meramente informativo, como o do atendente que apenas narra o próximo passo – aqui está seu tíquete, vou transferir sua ligação, um dia vamos morrer.

“Um dia vamos morrer”, alguém sempre nos lembra, um amigo num mau dia, um filme não muito animado, um quase acidente ou simplesmente um banho mais longo. Um dia, não estaremos mais aqui, morreremos todos, e o mundo, bem, vai ter que se virar sem os nossos pontos de vista, nossas opiniões sobre tudo e nossos comentários espirituosos. “Um dia vamos morrer”: opa, é mesmo. E de repente, mais uma vez, nós, que estávamos vivendo impunemente, nos lembramos  daquilo que esquecemos com muito mais frequência do que o lugar onde estacionamos o carro.

Porque evitamos pensar nisso, claro. Um pacto coletivo de esquecimento nos une, até que o maldito amigo, o filme, o quase acidente, o banho, até que alguém ou alguma coisa vem estragar aquele viral idiota que estávamos vendo tão felizes, tão sem incomodar ninguém. “Um dia vamos morrer”: sim, eu sei, eu só queria terminar meu cappuccino em paz.

“Um dia vamos morrer”: o lembrete macabro pode servir para tirar o sentido de tudo o que estávamos fazendo. Pensamos numa vaca na fila de um abatedouro: para quê? Nos solidarizamos com o prisioneiro no corredor da morte de uma penitenciária norte-americana: estamos todos no mesmo barco, meu caro. Perdemos a vontade de sair. De estudar. Faz sentido: um dia, vamos morrer.

“Um dia vamos morrer”: o lembrete festivo pode nos lembrar de que devemos aproveitar o momento. Nesse caso, “um dia vamos morrer” merece uma exclamação: “Um dia vamos morrer! Mais uma rodada de tequila!” Temos que viver cada dia como se fosse o último porque, bem, pode ser, mesmo. Precisamos aproveitar a vida. Faz sentido: um dia, vamos morrer.

E o pior é que a gente nem sabe direito o que é isso, morrer. A gente só sabe que vai. Mas o que é? Está mais para Paulo Coelho ou Richard Dawkins? Para onde vamos, o que acontece, ganhamos asas, viramos pó? Muito se especula, nada se sabe, a não ser que não importa se temos dentista marcado, casa de praia alugada ou reunião na terça: um dia, vamos morrer. Acabou para sempre. Ou recomeçou: vai saber.

“Um dia vamos morrer”: tem sempre alguém ou alguma situação para nos lembrar disso. Ainda bem que tem sempre alguém ou uma situação para nos fazer esquecer de novo. E lá estamos nós vivendo normalmente, felizes com a gracinha do nosso filho ou de saco cheio de esperar na fila do banco. Porque, você já deve ter reparado, a vida é meio estranha. “Um dia vamos morrer”: como conviver com essa certeza? Como absorver esse fato? Digo, absorver de verdade?

Podemos furar o pacto do esquecimento quantas vezes forem que continuaremos sem entender direito essa história de morte. Mas o que é que tem, não entendemos direito a vida também e cá estamos

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Não Foram Felizes Mas é Só o Fim Da História Que Importa ?





Outro dia, uma amiga veio aqui em acasa, começamos a conversar e acabei, meio a contragosto, emprestando um livro para ela ( Sim, sou essa pessoa chata que não gosta de emprestar livros! Ninguém devolve. Sei disso porque estou cheio de livros dos outros em casa ) Bom, depois que emprestei, fiquei todo curioso para saber o que ela tinha achado. Ela não costuma ler muito, mas eu tinha a certeza de que, desse livro, ela ia gostar. Depois de meses enrolando, ela finalmente começou a ler. Daí um dia, ela entra no MSN e fala: “Terminei o livro”. Pergunto: “E aí, e aí?” E ela responde: “Ah, não gostei do final”.
Sério. “Não gostei do final”: Isso é tudo o que ela tinha a dizer ? Suspirei e perguntei o que ela achou, então das outras 290 páginas, já que não tinha curtido as últimas dez. “Ah, sei lá, acho que a história ia acabar indo para outro lado”, ela respondeu. De novo, a danadinha focada no final. Desisti e não comentei mais sobre o livro ( A não ser para cobrar a devolução ). E fiquei pensando: quantas vezes a gente não dá muito mais valor ao final das coisas do que à história toda ?
Nem é só com livros ou filmes. Tem gente que tem um namoro perfeito, que durou três anos felizes, sem nenhuma discussão. Ok, isso não existe. Mas, enfim, o namoro foi lindo a maior parte do tempo e teve um final péssimo - Digamos o cara se apaixonou por uma menina e ambos fugiram para o Caribe. Por que essa parte tem que apagar os três anos inteiros, como se eles não tivessem valido a pena ?
E isso acontece comigo agora ( Não fugi para o Caribe). Mas uma pessoa que me fez bem durante um bom tempo. Quando a conheci, nunca pensei que teria tantas noites boas na minha vida. Durante, quase, dois meses, não lembro exatamente, tive tudo o que eu precisava: uma amiga. Enfim, noites após noites conversávamos sobre tudo um pouco até o dia amanhecer. Perfeito mas com tudo isso, algo inevitável aconteceu: me apaixonei por ela e hoje a amo mais que tudo. Enfim, tive que fazer uma coisa ruim: Ou eu tinha tudo ou não tinha nada. Não conseguia tê-la  apenas como amiga, queria ir mais além. E hoje fico noites sem dormir pensando nela, pensando se ela está bem, com fome, com sede, sono e etc. Lembro que ela falou para mim “Desculpa, por eu te fazer sofrer” e foi uma facada no peito mas começei a pensar que será que é só o fim que importa ?
tenho uma amiga que ama com todo o amor dela detonar o ex porque ele a largou de repente (embora não tenha fugido para o Caribe com ninguém) Hoje, ela já está toda serelepe com outra pessoa, mas, se você perguntar sobre aquele namoro, ela já vai respondendo que foi uma história sofria, que quase morreu e tal. Ou seja, os momentos em que os dois tomava sorvete, os passeios, a harmonia, tudo sumiu, e ficou só um cara sem coração e um fim sofrido. Pior, ficou aquela sensação de “Não deu certo”. Aliás, se tem uma coisa que sempre detestei nos meus fins de namoro é quando alguém me perguntava: ” Ah, mas por que não deu certo?” Só porque acabou, não deu certo? Para mim passar um tempão feliz com alguém é, sim, dar certo com essa pessoa, vai.
Uma vez, um amigo meu, superneurótico com dieta, ficou tão encanado com o tanto que tinha comido numa festa que foi embora para casa de cara fechada, depois de uma noite bem divertida. Também uma amiga que, no último dia de uma viagem de um mês, quebrou um dedo e ficou tão mal-humorada que nem gosta de se lembrar da viagem. Sério, foram tantos dias ótimos, mas ela só se foca no último. Já me peguei fazendo isto também: encanando com a parte chata de uma conversa que, pela noite inteira, foi tão agradável; recordando justamente da parte “Talvez, devéssemos ser apenas amigos”. Por quê ? por quê ?
Pode ser hábito, pessimismo, memória ruim. Sei lá. Só sei que eu não faço a menor ideia se existe vida depois da morte. Sem querer ser mórbida nem nada, se não existir, a gente vai ter que se contentar com um final bem sem graça para nossa trajetória: puf, sumimos da Terra. E ai, a vida valeu menos a pena por causa disso ? Não acho. Prefiro me focar em tudo que passei de bom. Prefiro me focar nas 290 páginas que eu aproveitei. Certo, o fim dói quando é triste e fica marcado porque queriamos que fosse diferente mas o que passou também importa.

sábado, 5 de outubro de 2013

A vida diante da morte

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um cliche. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.