sábado, 8 de fevereiro de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 2 - O Jantar Destinado.





      Lembro também do nosso segundo "encontro". Você lembra ? Aquele dia foi horrível lá na quadra. Morremos de tanto correr (principalmente eu que estava doente). Aquela professora de Educação Física sempre foi muito exigente. Ela deveria saber que nós, mulheres, não temos a mesma resistência dos homens, e eu ODEIO fazer educação física. Mas tudo bem, eu podia te ver dali, podia trocar olhares mesmo que sua atenção se concentrasse nas outras gurias mais lindas e mais gostosas do que eu. Tava quase colocando um silicone nos meus peitos para você reparar mais em mim.
      Mas acabamos tendo que sair em grupo mais uma vez. Eu não estava me sentindo bem naquela noite, algo em meu corpo não funcionava como de costume. Eu estava com dificuldades para respirar mas achei que fosse apenas um resfriado de última hora. Lá, foi a primeira vez que eu estive em um grupo de amigos. Já que eu não sou de ter tantos assim. Como, eu não sei, consegui sentar ao seu lado. Parecia o destino me dando uma chance, de quem sabe, me confessar para você.
      Como sou do interior, eu nunca tinha visto tantas comidas sofisticadas. Eu não sabia o que comer, mas tudo me parecia ter um gosto bom. Exceto pelo meu nariz, que não me deixava sentir o cheiro. Dai me lembrei do que o médico me disse. Então eu olhei para você, com uma tentativa de sentir seu cheiro. Sentir o cheiro do seu perfume. Seu perfume que me leva para outro lugar, um campo de flores onde eu posso ver todas elas alegres e felizes. Ele era como cada coisa necessária neste mundo. Era como se o mar estivesse refletindo a luz da lua. Como o Sol, que por mais que brilhe, sempre no final dá um lugarzinho para as estrelas brilharem.
      Mas por mais que eu tentasse, tudo era em vão. Talvez, ali, eu tivesse perdido meu olfato. Consequência da minha doença que me dava apenas alguns meses de vida. Então eu chorei, mas chorei baixinho e por dentro por não poder mais sentir seu cheiro, que me acalmava. Um pouco tímida, nunca fui de conversar bastante, mas se fosse com você, eu passaria horas e mais horas. Eu prometi para mim mesma que isso não me abalaria, mesmo que acontecesse o pior mas também prometi te contar tudo, para poder me sentir mais segura e não me arrepender de não falar.
      Estávamos tão felizes, que eu não poderia simplesmente pausar aquele momento, e falar livremente da minha doença e que eu não poderia mais sentir o cheiro das coisas. Então, como sempre fiz, coloquei um sorriso no meu rosto e segui em frente. Com a noite me acompanhando, com a alma chorando, mas com você ao meu lado.

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