domingo, 16 de fevereiro de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 4 - Eu Ainda Sinto...





      Eram 20:00 em ponto. Exatamente como o combinado. Ou quase, até por que eu muito ansiosa cheguei um pouco antes. Eu estava lá, no metrô esperando você aparecer. O local não estava como de costume. Tinham poucas pessoas, e as poucas que tinham pareciam não me ver. Uma moça sentada no banco enquanto seu gato dormia no colo dela e um rapaz de sobretudo e um chapéu esperava também pelo metrô encostado em uma das pilastras. Olhei para o relógio impaciente mais uma vez e quando dei por mim, ao longe o metrô acabara de chegar e passava muito rapidamente. Então ali tudo aconteceu.. Comecei a ver sua imagem projetada na velocidade em que o metrô estava passando, enquanto você abria um sorriso lindo que fazia meu coração enfraquecer e me deixar mais frágil do que um copo de vidro. Foi quando senti uma mão quente que me fez arrepiar até o último fio de cabelo existente em meu corpo. Quando me dei conta, você estava atrás de mim, se aproximando e quando nossos olhos se encontraram, já era tarde demais. A única coisa que me lembro era de ali, eu estava, finalmente, ocupando o mesmo lugar que o seu corpo ocupava...
      Então, eu abri os olhos. Era uma linda manhã de verão. O Sol radiante pela janela iluminava o meu quarto, como de costume. Mas dessa vez ele estava mais forte. Foi quando eu pulei (Só modo de falar) da cama e olhei para o relógio. 8:30 ele indicava. Droga, perdi um dia de aula na faculdade. Me senti mal por um momento, até por que nunca tinha faltado aula na minha vida. Mas por outro lado, eu teria um dia inteiro só dedicado para mim. Uma mão quente tocando no meu ombro... Me pergunto como senti a mão dele mas logo já achei a resposta. Era apenas um sonho mas mesmo assim em uma tentativa falha, toquei meu ombro e não senti nada. Então lembrei que na noite anterior eu tinha perdido uns dos sentidos que mais me aproximou dele.
      Como eu iria me acostumar com isso ? Não estava sentido nada com meu corpo. Era como se eu tivesse que aprender a andar novamente. Então levantei sem sentir nada e tentei andar. A sensação era totalmente estranha. Eu poderia ter pisado em algo e eu jamais sentiria. Demorei uns 10 minutos só pra chegar na cozinha. Mas bem que eu já estava me acostumando em andar "novamente". Foi quando me dei conta que eu tinha acabado de derrubar um copo. Só percebi por causa do barulho, por que se fosse pelo toque... Agora eu entendo quando minhas amigas dizem que é horrível ficar anestesiada. Com bastante dificuldade, depois de uns 40 minutos eu consegui, enfim, fazer meu café da manhã. Então me sentei e comi... e pensei... e continuei pensando.
      Como eu iria viver daquela maneira ? Não podia respirar (na verdade, sentir cheiros se não eu já estava morta), não podia sentir e só Deus sabe o que poderia acontecer comigo depois. Por um momento eu já tinha desistido de tudo. Eu queria só morrer, ou ficar em uma cama deitada eternamente até... morrer. Mas logo depois sua imagem veio à minha mente. Seu sorriso, seu jeito de falar, seu calor, sua aura que transbordava de felicidade. Então eu sorri e decidi tentar mais uma vez, não importando o obstáculo que eu deveria encontrar. Foi quando a cigarra de casa tocou, e então como um beliscão pra voltar à realidade, eu me assustei. Acho que já fazia um bom tempo que ela tocava. Mas era estranho pois jamais alguém veio até a minha casa.
      Então levantei, e com mais facilidade, depois de praticar bem, eu consegui chegar até a porta. Quando vi quem era, eu não sabia o que fazer. Eu congelei. Alto, encostado na quina da porta, ele estava lá. Sorridente e perfeito. Eu nem me dei conta que estava de camisola, pois meus olhos não conseguiam ir pra outro lugar que não fosse os olhos dele. Sua boca rosada me chamava mais ainda a atenção e por um momento pensei que já tivesse beijado, mas era sonho aquilo. Então com um tom suave e uma voz grossa que deixaria qualquer mulher ter um orgasmo só de ouvi-la, ele perguntou o por que não fui a faculdade. Logo expliquei que não estava me sentindo bem e que quis ficar em casa por hoje. Então, no jeito despojado, logo perguntou se poderia entrar e sem saber o que falar, só mexi a cabeça afirmando o pedido dele. Ele passou por mim, meu coração parou. Eu já estava delirando, a temperatura do meu corpo aumentava a cada passo que ele dava em direção à sala. Quando me vi, já estava de frente para ele, no outro sofá e ali, foi ali que tudo começou...

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