quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 5 - O Começo da Vida





Outubro, 23 de 1992      

      Voltando um pouco, vou tentar ser o mais sucinta possível. Era uma manhã bem fria, onde mesmo com tantos edredons eu ainda sentia frio da mesma forma. Fazia pouco tempo que eu tinha vindo pra essa cidade, então não conhecia muitas coisas por aqui. Vim para cá por que queria ficar longe de meus pais e das pessoas de lá. Eu não gostava muito de me expor. E lá fazia um sol danado. Pelo menos aqui não faz com tanta frequência.
      Era mais ou menos umas 6:00 da manhã, então eu levantei e assim que toquei meus pés no chão, me arrepiei toda. Tava tão gelado, que parecia que eu estava pisando numa pista de gelo. Mas logo achei minha sandália e então fui ao banheiro. Eu estava um horror de pessoa. Na verdade sempre fui um horror de pessoa quando acordo. Quem não é né verdade ? Ainda bem que moro sozinha. Já pensou se eu morasse com alguém ? Imagine se eu fosse casada ? Não iria dar muito certo isso não..
      Era meu primeiro dia na nova escola, e então eu estava nervosa. Eu sempre fui meio antipática e nunca tive muitos amigos. A prova disso é que não tenho contato com ninguém de lá de onde eu morava. Nem ao menos um "feliz aniversário" eu recebi. A não ser dos meus pais. Mas primeiro dia no terceiro ano.. Eu já iria pegar metade do caminho andado. Nem metade, já pegaria 80% do caminho percorrido. Pior que o primeiro dia sempre parece eterno pra mim. São tantos olhares, tantas pessoas que eu não sei pra onde olho ou pra onde eu vou. Eu deveria ir ao médico pra saber se eu tenho algum tipo de Fobia que me faça querer ficar longe das pessoas.
      Sem muito o que pensar, vesti uma jeans meio escura, com uma blusa lilás e um casaco por cima. Umas luvas pra aquecer minha mão (já que estava nevando) e rumo à escola. Odeio apresentações (Já devem ter percebido que eu odeio muitas coisas). Não deveriam existir apresentações... poderíamos só falar nosso nome e pronto. Seria bem mais simples do que ter que dizer o que quer fazer da vida, o que espera ao concluir e blah blah blah. Meu nome é Cris, tenho 17 anos. Sou morena, medindo uns 1,60 (baixinha eu acho). Seios médios, peso de 45 quilinhos. Se um vento bater em mim eu voo. Mas nada demais à apresentar.
      Logo cheguei à escola, exatamente às 7:20 e muitas pessoas já estavam correndo atrás de seus nomes que estavam em papéis em um mural enorme (mas enorme mesmo, tipo ENORME) posto por ordem alfabética. Não demorei muito até encontrar meu bendito nome. Ele me indicava a Sala Crescente F. "Ok, Sala Crescente F" (Repeti isso várias vezes em um tom de sarcasmo. Era estranho um nome de sala assim.). A escola era bonita, enorme, com vários andares. Meio parecido com aquelas construções antigas daqueles casarões. Parecia mais igreja do que uma escola. Toda vermelha, com seu escudo bem na frente. Um leão com uma cruz, e o nome da escola: "Escola Flor de Lótus". Achei até legal o nome, pelo fato de não ser o nome de alguém.
      Claro, que sem demorar muito fui "correndo" pra minha sala. Queria ficar o mais longe possível das pessoas ao meu redor. Então fui passando despercebida até chegar na minha querida sala. Pior que ela tinha o formato de Meia Lua. Achei até diferenciado. Não demorou muito até os outros alunos chegarem até a sala (Eu tinha sido a primeira a chegar), e como costume olhei cada um que passava por ela. Nenhum deles me chamaram atenção, a não ser por um rapaz alto, e bastante moreno (Ele deveria ter viajado e ido a praia, só pode). De longe parecia que seu corpo era feito de chamas. Foi o único que entrou sozinho, mas entrou sorrindo como se já soubesse como funcionava tudo ali.
      Minha carteira era a de número 13, e a dele era uma embaixo da minha. Fiquei quieta no meu lugar até que o professor chegou e começou a dar sua aula. Ou bem que não era uma aula, era mais uma apresentação e um conto da sua própria vida que não mudou em nada a minha. O Intervalo era uma coisa bem simples. As pessoas comiam, outros brincavam com a neve. Alguns escutavam música ou tocavam seus instrumentos por ali mesmo enquanto outros paqueravam e se divertiam de outras maneiras. Não tinha muito o que se ver por ali, exceto por Ele, que era a coisa mais calorosa que eu já tinha sentido na minha vida. Com ele lá nem precisava existir o sol. Ele passou uma vez por mim, e já foi o suficiente pra eu me aquecer por uma noite toda dormindo na minha cama. Quem era ele ? De todos, o único que eu não conseguia manter distância, o único que eu não conseguia parar de olhar. O que eu tinha curiosidade de saber como era a sua voz, como era seu jeito, seu nome, de onde veio, e muitas outras perguntas... Mas de uma coisa eu tinha certeza.. Ele iria, de alguma forma, marcar a minha vida..

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