segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 6 - O Improvável







      Novembro, 03 de 1992


      Depois de um certo tempo, acabei me acostumando com aquela escola. Eu não queria deixar ela nem tão cedo, até por que eu gostava de fazer bonecos na hora do intervalo junto com Sophia. Além do mais, ela era tão alegre que poderia acontecer o que fosse de ruim no mesmo dia para mim, com ela por perto não tinha espaço para a tristeza. Sua obsessão por simetria era meio que estranha. Ela não poderia ver nada, que já duvidava se estavam realmente simétricos.. Quase que ela em depressão quando percebeu que seu garfo não era proporcional a sua faca quando foi almoçar. E por pouco não teve um infarte quando viu que os alimentos não estavam distribuídos forma "iguais", vamos assim dizer. 
      Deixando Sophia um pouco de lado, não tinha muito o que falar. Como veem, eu entrei no fim do ano, o que deixou muita gente se perguntando o por que de ter uma novata entrando justamente naquele momento. Simples, eu fui transferida da minha antiga escola. Ela ficou sem professores por um tempo e como era regra de lá, os alunos são transferidos para "Flor de Lótus". Já mencionei que achei maneiro esse nome ? Tudo por que não é o nome de alguém. Dai os alunos concluem o ano e quando tudo estiver de volta ao normal, todos voltam para a "Escola Mindwich". Esse nome é mais legal ainda. Mas ela me dá medo. 
      Então, como esperado, estou eu aqui sentada na minha carteira, pensando na vida, pensando no homem cujo meu coração dispara sempre que o olho daqui de cima, pensando em tudo menos na prova que está na minha frente faz uns 40 minutos. Sério, 40 minutos e eu não respondi uma questão sequer. Eu odeio exatas. Odeio tudo que inclua exatas. Então tá explicado por que não respondi até agora qual era a velocidade que uma pessoa dentro do trem A via quando o trem 1 passava pelo trem 2, sabendo que: A = 9, e aqueles trecos todos de Física. Mas era Velocidade Média então o que eu estava esperando ? Logo comecei a responder as questões e quando vi já tinha terminado. Claro que isso demorou bastante, mas me deu um pouco de tempo de sobra pra olhar um pouco mais para um calor humano vindo de uma carteira abaixo.
      Reparando melhor, ele tinha umas asas enormes nas costas (eu pelo menos imaginei isso), pois dava pra ver uma parte de sua tatuagem. Algo como um anjo sabe.. bem interessante. Eu não sabia se ele já havia terminado sua prova, pois não dava pra ver muito e eu não queria me mexer pra não pensarem que eu estava filando e dai anularem a minha prova. Mas pelos poucos movimentos dele, provavelmente sim. Pouco depois todos os alunos foram estregar as suas provas, porém eu e ele ficamos imóveis na sala. O mesmo pensamento de ser o último a entregar, já que no fim tem que entregar da mesma forma. Algo tranquilo mas também constrangedor. Foi quando esbarramos na porta de saída, então, desastrada como sou, derrubei meu caderno. Logo então ele se abaixou e pegou para mim mas ele não voltou. Ficou me olhando de baixo, como se quisesse subir bem devagar para admirar meu corpo. Não duvido que ele tenha me comido mentalmente.
      O Nome dele era Bryan. Bryan... Soa como nome de fuzileiro do exército. Ele era alto, o que fazia com que eu olhasse para ele de forma que me sentisse protegida. Diferente de mim, ele estudou lá desde do começo e agora é seu último ano lá. E essa foi sua última prova. Lembro dele ter feito algum comentário de que a última questão era falsa, e não deveria ter respondido ela. Ele era bem descontraído, então comemorou com alguns comentários sarcásticos o fim de semanas de provas, e queria relaxar. Ele falava comigo como se fôssemos velhos amigos, e isso me deixava mais segura. Eu ria e sorria a cada coisa que ele falava. Não importava o que, ele sempre tinha algo pra falar. Transformava tudo em assunto. Até mesmo quando comentou do extintor de incêndio, dizendo que uma vez, olhou rapidamente para ele e falou algumas bobagens pensando que fosse seu amigo de vermelho.  Ninguém nesse mundo falaria com um extintor pensando que fosse um amigo mas enfim, casos a parte. 
      Como de se esperar, acabei contando pra ele um pouco da minha história e tal, onde no fim ele me chamou para uma festa na casa dos pais dele. Na verdade, eles estavam viajando e então ele queria extravasar. Eu não gosto de festas, muito menos de locais onde se tem muita gente. Mas por algum motivo, minha boca se abriu sozinha e aceitou o convite dele. Logo então, ele foi para sua casa e eu para minha. O que eu tinha acabado de fazer ? Aceitado um convite de uma festa de uma pessoa que acabei de conhecer... Mas meu coração falou mais alto. Ele batia cada vez mais forte sempre que eu lembrava dele. Bryan... Não deveria ser tão ruim assim passar uma noite junto dele...  Porém, mal sabia eu que ali seria o começo do meu fim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário