sábado, 15 de março de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 11 - O Fim







      Eu já estava preparada para tudo isso que está acontecendo. Mas não esperava, claro, que acontecesse de uma forma tão rápida e em momentos tão decisivos. De alguma forma acordamos na cama, e você estava dormindo pra um lado e eu pro outro. Fiquei tentando imaginar você me carregando pra cama em alguma hora que não sei qual foi. Muito menos o que você fez nessas horas comigo. Mas não estava muito preocupada com o que tivesse acontecido entre as 7:00 e as 8:30. A única coisa que tinha vindo era pra que eu saísse dali imediatamente. Eu ainda estava aterrorizada, sem acreditar no que havia acontecido. Sem contar que eu tava uma bagunça. Descabelada e tudo.
      Foi uma tortura vir até minha casa. Sair de lá sem ao menos me despedir de ninguém, andar nas ruas e pegar busão sem ao menos ouvir nada. Eu nem imaginava o que as pessoas estavam falando, muito menos quando elas estavam dançando em frente ao um club que estava perto de fechar. Parecia um pesadelo. Sempre que eu andava mais, eu me sentia mais atormentada. As pessoas olhavam para mim como se quisesse ler a minha mente. Seus olhares se concentravam em mim, como quem quisesse devorar minha alma.
      Então eu corri. Corri o mais rápido que pude até chegar na minha casa. Fui direto ao banheiro e parei de frente ao espelho. Meus olhos tremiam, minha pele estava ficando cada vez mais pálida. Minhas mãos geladas. Tentei encontrar algum remédio para parar meu nervosismo. Acabei derrubando tudo que estava arrumado, quebrando boa parte dos itens que se encontravam ali. Pouco estava me importando com isso. Fui até a sala, me arrastando pela parede. Tudo que eu queria era deitar naquele momento. Eu andava, e por mais que eu andasse parecia que o sofá ficava mais longe. Os lados foram ficando mais escuros em segundos, meu corpo suando, e minha boca querendo pedir por ajuda. Por mais que eu mexesse ela não emitia som algum. Parecia o fim para mim. Mas realmente era o fim. Meus olhos fecharam e eu desabei.
      Agora eu estou aqui, deitada nessa cama de hospital com esses fios enfiados em mim. Não tenho a mínima ideia de quanto tempo se passou desde quando cheguei aqui. Não sei nem quando foi isso. Muito menos quanto tempo eu passei dormindo. Meus olhos ainda estavam se abrindo, e tudo que eu via estava embaçado. Aos poucos, do meu lado direito eu vi aquelas máquinas que ficam monitorando os batimentos cardíacos. Ele não estava estável, estava um pouco avançado pro normal. Minha visão melhorou um pouco então quando olhei do outro lado, eu te vi do outro lado da porta. Você impaciente dessa vez, estava conversando com o médico. Pela sua cara, eu diria que ele descobriu sobre a minha doença e você ficou desesperado com isso.
      Meu coração palpitou mais uma vez de amor por você, e então eu comecei a ficar sem ar. Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas tudo que eu pude fazer foi levantar a minha mão na sua direção e de alguma forma te chamar, mesmo que mentalmente. Eu estava ficando mais agoniada, mas parece que meu espírito chegou até você. Ambos entraram desesperados, e enquanto o médico verificava algum erro nas máquinas, você segurou minha mão e começou a pedir para eu aguentar firme.
      Meus olhos numa forma de expressar tudo, conseguiu ler seus lábios mesmo naquela situação desesperadora. Aos poucos eu fui sentindo que minhas forças estavam indo embora, e tudo que me veio à mente foi todos os momentos que passamos juntos. Desde da primeira vez que te vi até a última na praia. Me arrependi de não ter te contado meus reais sentimentos, e agora não posso mais fazer isso. Minha visão foi escurecendo novamente, e eu lembrei que não te falei uma coisa muito importante e que eu tinha prometido para mim mesma que falaria, não importava como. Minhas mãos já estavam soltando as suas, não aguentavam mais ficar suspensas. Meus olhos estavam quase totalmente fechados, quando eu consegui ler. Você falou, de um jeito tão sincero. Suas lágrimas caíam pela primeira vez na minha frente. Vi que mesmo sendo tão forte, você também era fraco. E meio que soletrando você falou, meus olhos fecharam e meu sorriso se abriu. Eu estava satisfeita por saber aquilo, e por poder também dizer de uma forma diferente a mesma coisa.
      Então, tudo acabou. Não sei o que aconteceu dali pra frente com você e quem foi em meu enterro. Se é que eu tive um. Não sei como meus pais reagiram, ou até mesmo se essa notícia chegou até eles.
      Mas de uma coisa eu tinha certeza. Eu te passei o que sempre quis falar
      E você falou o que eu sempre quis ouvir.

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