segunda-feira, 3 de março de 2014

Memórias Ao Silêncio: Parte 9 - O Segundo Encontro







      E todos aqueles dias seguintes àquele foram os piores que eu já vivi. Enquanto eu ainda me perguntava por que eu estava ali tentando de alguma forma me senti totalmente normal, por outro lado eu me questionava se eu ainda existia ou se estava apenas vivendo. A resposta era obvia. Mas já que eu tinha uma data certa de que minha existência iria ser extinta, eu queria viver intensamente.
      Pior foi a desculpa que inventei quando me perguntavam por que eu vivia muda. Eu só iria voltar a falar quando eu passasse naquela maldita cadeira de matemática financeira. Eu nunca gostei então eu tava me esforçando ao máximo, de verdade, para ser aprovada nela. A unica coisa que não era verdade, é que eu não iria voltar a falar. Engraçado era pra me comunicar com alguém. Eu nunca tinha gesticulado tanto na minha vida e sofrido pra fazer alguém entender algo tão simples. Eu deveria ter brincado mais de mimica na minha infância, talvez isso me ajudasse um pouco nessas situações.
      Pensaram até que eu estava morta. Sim, morta. Demorei quase um mês pra voltar a frequentar a faculdade, até por que eu estava aterrorizada com o que tinha acontecido comigo naquele dia. Eu voltei ao médico mas ele falou que eu ficasse em uma clínica. Isso seria o melhor para mim pois eu não saberia quando meus Life's Points poderiam chegar ao zero. É, não mencionei que eu amo jogos. De preferência que sejam bem longos. Mas eu ignorei totalmente o que ele me falou e depois de tanto tempo de pânico, eu voltei a ser que eu era (ou pelo menos uma parte).
      Mas que inferno não ? Eu não podia mais tocar ele, dai não poderia sentir mais seu corpo me aquecendo. Não podia mais sentir seu cheiro, dai não podia mais dormir com a sensação dele está lá comigo. Aquele seu perfume que me levava até o céu e voltava. E agora eu não podia mais falar. Mas que droga. Agora não posso mais dizer do jeito que eu queria dizer todos os meus sentimentos por ele. Mas eu iria dizer, de alguma forma ou de algum jeito. Porém, eu ainda podia ouvir a sua voz. Delicada e grossa ao mesmo tempo. Suave... Toda vez que ele chamava meu nome, meu corpo todo se arrepiava. Eram calafrios que não se acabavam de modo algum. Mas pelo menos eu podia ouvir. Então, por que ficar pra baixo, quando eu posso está sorrindo.
      A prova iria demorar para chegar, seria no final do período. A última. Então daqui pra lá eu arrumava outra desculpa caso eu não passasse (ou passasse) na prova. Estávamos na biblioteca estudando como funcionava o mercado de trabalho na África. Eles tinham muitos ouros, porém não tinham produtos brutos. Isso serviria de alguma coisa, apesar de eu não ver ligação alguma com aqueles cálculos demoníacos que Tra passava na suas quatros aulas seguidas de matemática. Quatro, ninguém merece. Eu já estava muito exausta e todos também. Então resolvemos parar por hoje. Aliás, era sexta-feira. Dia de descansar e de curtir. Foi quando Bryan me chamou (na verdade chamou todo mundo mas eu entendo que tenha sido só pra mim) pra um luau. Ele (os pais dele) tinha uma casa de praia alugada, então iriam fazer um Luau só de casais. Eu queria saber onde eu sou um casal ali. Mas o que importava era a intenção, pois boa parte também não eram casais. Isso me lembrou daquela festa de tempos atrás. Aquela que destinou a minha vida... e pensei o que poderia acontecer comigo nessa. Mas eu não tinha muito o que perder, minha vida não poderia piorar, ao menos pela minha doença. Então, todos aceitaram com uma grande risada e com sorrisos no rosto. Eu apenas consenti e concordei...

Nenhum comentário:

Postar um comentário